quarta-feira, 26 de março de 2008

Habilidade

Kung Fu . . . Wu Shu . . . Considero que a melhor tradução para todos esses termos é “HABILIDADE”. É certo que a maioria de nós (os mais velhinhos!) possui uma imagem do que vem a ser o “Kung Fu” a partir do seriado de televisão de mesmo nome . . . e não é que um dia destes eu vi que lançaram a série em DVD . . . este seriado fez enorme sucesso durante a década de 70 no Brasil. Contava a história de um monge budista, mestiço sino-americano, que imigrava para o Oeste dos Estados Unidos da América em busca de seu irmão desaparecido. Formado Monge do lendário Templo Shaolin, Kwai Chang Caine é um mestre das artes marciais do kung-fu e da doutrina taoista. Uma outra imagem, anterior a esta, que marca e investe a prática do kung-fu é a do herói de cinema Bruce Lee. Com um estilo mais violento, um porrador, Bruce Lee também conquistou as platéias cinematográficas de todo o mundo com seus golpes potentes e sem muita “filosofia de botequim”, o que movia o pequeno dragão era o impulso de vingança - tema da maioria (senão de todos!) de seus filmes. É curioso que foi Bruce Lee quem primeiro pensou em um seriado de televisão cujo principal personagem seria um monge budista no Velho Oeste Americano. Claro que na sua visão ele próprio interpretaria o herói lutador, desferindo muitos golpes potentes nos vilões americanos . . . pancadaria total. Não colou!!! Um outro ator, americano, foi escolhido para interpretar o papel. Seria demais para os empresários americanos lançar um herói mestiço oriental, baixinho, derrubando americanos corpulentos. Enfim, o que temos são algumas imagens que nos chegam rapidamente na mente quando falamos a palavra mágica - KUNG FU. Muita “porrada” p'ra todo lado.
Será que isto corresponde? Nas Academias da Malhação . . . "martelo no ferro na bigorna" . . . o caminho principal para a divulgação desta prática é como Luta. O sentido é indicado através de um modo de defesa pessoal e de um esporte de combate. Então, consideremos que não é este o nosso objetivo aqui/agora. Qual é o nosso objetivo então? Pensemos em MOVIMENTO, como sendo o nosso objetivo. O que esta palavra evoca em nós? Ginástica? Malhação? Muito suor? Cansaço físico? Dor? Esforço?
Fui procurar! Pelo caminho encontrei com “um tal de” Moshe Feldenkrais. Um título bastante sugestivo: “Consciência Pelo Movimento - Exercícios fáceis de fazer, para melhorar a postura, visão, imaginação e percepção de si mesmo” (Awareness Through Movement - 1972). Quem é Feldenkrais? Ele é um físico que estudou biomecânica e ao que parece se interessou pelo corpo humano, não enquanto estátua, mas enquanto movimento, alma. Pouco conheço de seu trabalho, mas do pouco que vi achei interessante.
Primeira frase do referido livro:
“Nós agimos de acordo com a nossa auto-imagem”.
Segunda:
“Esta, que, por sua vez, governa todos os nossos atos - é condicionada em graus diferentes por três fatores: hereditariedade, educação e auto-educação”.
Sua área de atuação é justamente a da auto-educação; portanto auto-conhecimento. O livro é dividido em duas partes, na primeira ele tece um referencial teórico e na segunda propõem diversos ‘exercícios’ (palavra contaminada - seria interessante trabalhar a carga emocional negativa desta palavra). Não vou aqui me estender mais em sua obra. Apenas apontar que é interessante. Quem tiver mais interesse, a obra foi publicada pela Summus Editorial.
Vou falar um pouco de nossa prática, desta ‘ginástica’. De nossas práticas, trago uma pergunta recorrente sobre a origem ‘disto’: "quem inventou?", "quem é que fez?" . . . Confesso que nunca me interessei muito por isso; mas, enfim, vamos tentar. . . O que dizem é que por volta do ano de 502-549, Bodhidharma ("Tamo" para os chineses) levou da Índia para a China uma série de exercícios respiratórios chamados YI KIN KING. Os monges do mosteiro Shao-Lin (Shao-lin sseu), localizado no monte Song-Chan desenvolveram, sob a orientação de Bodhidharma, um estilo de self-defense eficaz, que tinha como objetivo mantê-los em boa condição física. Esta ‘ginástica’ é aliada a uma concepção diferente do budismo - Chan (China); Sun (Coréia); Zen (Japão). Conta o mito que 18 discípulos de Sáquia-Muni teriam praticado 18 movimentos vulgarizados por Bodhidharma. Mais tarde eles foram aperfeiçoados para uso dos leigos por ordem do imperador T’ai-tsou (960-975). E no período do general Yo Fei, 12 exercícios foram aplicados para o treinamento de soldados. Uma tradução possível dos termos pelos quais designamos esta prática seria aproximadamente a seguinte:
Significado dos Termos em Chinês e Japonês
CHINÊS: WU / SHU / TAO
JAPONÊS: BU, MU / JUTSU / DO
SIGNIFICADO: MARCIAL, GUERREIRO / ARTE-TÉCNICA / CAMINHO-DOUTRINA
Também temos para trabalhar, a imagem de um guerreiro . . . ou uma guerreira, o que importa é a vontade . . . em movimento, passos largos, cabeça erguida, olhar firme, vigoroso, determinação em seu movimento. Basta ver um filme de Akira Kurosawa (“Os Sete Samurais” por exemplo) para entender este movimento característico do guerreiro.Esta arte compreende exercícios respiratórios, movimentos baseados em animais, movimentos giratórios com braços e pernas, saltos, cambalhotas, manuseio de armas brancas, combate a mão-livre e combate com armas. Paro por aqui este pequeno histórico do Kung Fu.
Me pergunto: E DAÍ?
A principal característica de tudo isto, seja na China, na Coréia, no Japão . . . ou seja lá onde for, com a técnica e o nome que tiver (Wu Shu; Tae Kwon Do; Karatê Do), é ser um tipo de movimento que apresenta uma característica comum. Ou seja, são movimentos executados com vigor e energia. São movimentos fortes e rápidos. Movimentos de preparação para a luta. Movimentos de encenação . . . ritualizam um combate.
Continuo me perguntando: E DAÍ?O QUE PODEMOS FAZER COM ISTO AQUI / AGORA?Podemos fazer um universo de coisas. Mas em todas estas infinitas coisas, interessante é propor algumas dicas importantes e essenciais . . . pra quem?
1) É saudável que não tentemos imitar o movimento que o instrutor faz, da maneira como ele faz. Por que desta preocupação? Para ser uma atividade saudável, cada um deve descobrir, perceber, aceitar, reconhecer, sensibilizar, conscientizar, seu próprio limite físico. Perceber que possui um tônus muscular próprio, uma elasticidade própria, e uma resistência também própria em cada tipo de movimento.
2) Ter sempre em mente que o objetivo é o MOVIMENTO, não este ou aquele movimento, desta ou daquela maneira, mas sim o simples e singular MOVIMENTO. Uma frase: “em mim aquele movimento realizo assim”. Encontre o seu próprio caminho.
3) Esqueça tudo que já viu ou ouviu sobre artes marciais, esportes de combate, lutas de boxe, brigas, discussões, violência. DIVERTA-SE . . . OUSE ALEGRAR-SE . . . Aqui / Agora, é um tempo e espaço lúdicos. Como crianças, devemos estar abertos para aprender. Movimentos estranhos, novos, inusitados, perigosos, difíceis, divertidos, alegres, engraçados. . . Nada é mais difícil do que aprender a ficar de pé e andar. Daí pra frente, é “mole”.
4) Converse o tempo todo com você mesmo, com o seu corpo. . . sinta-o - quente, molhado, vibrante, pesado, vigoroso, rápido, lento, elástico, rígido, suave, etc. . .
5) Não se preocupe com certo ou errado - apenas faça - invente o seu movimento a partir do que vê. . .
6) O imperativo é a comunicação - contato e saúde.
Portanto, o que importa assinalar é que o Caminho (Tao; Do) É percorrido com o sentido e a intenção de entrar em contato com movimento . . . com a alma de cada praticante . . .

3 comentários:

lala disse...

Marcelo, muuito legal seu blog!
você tbm dá um excelente filósofo! Esse post tá muito bom! O post das posturas tbm! Eu não sabia pronunciar metade delas...até agora! =D
Vou tentar acompanhar o blog!
Abraçoss! Até o proximo treino!

Vivian disse...

Quase não reconheci que você comentou no meu blog! hauhauhaua

Eu faço Antropologia nesse semestre, é bem louca a matéria mesmo mas é umas das minhas prediletas.

=***

Unknown disse...

Marcelo, muito bom!!!
Quanto talento filosófico!
Pensar q. te conheço há tantos anos...e não conheço!
Adorei.